segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Cânone Literário II - O papel da História da Literatura


Harold Bloom (1995) afirma que, hoje em dia, o cânone vincula-se de forma direta com os círculos culturais (universidade, editoras, críticos literários) responsáveis por sua subsistência e manutenção, todavia segundo a argumentação de Moreira apud Frank Kermode (1998) a formação do cânone ocorre por meio de determinados textos que conseguem manter-se em um processo critico continuado. Dentro dessa lógica, existem elementos textuais, tais como: maior ou menor relação com outros textos, grau de polivalência, boa influência do patrocinador que irá introduzi-lo na crítica e o lugar que ocupa na esfera crítica. Todas estas são características importantes para determinar o grau de interesse que o texto suscitará e por quanto tempo.

Além disso, para entendermos o motivo pelo qual determinado texto ocupa um espaço privilegiado em relação a outros só é possível, se recorrermos à história da literatura. Ela é fundamental para percebermos que quanto mais antiga a literatura, mais importante o patrimônio nacional, consequentemente mais numerosos os textos canônicos. E os “clássicos” advêm dessas nações que após legitimarem seus textos nacionais fundadores passam elas próprias a delimitar o que é necessariamente literário. “O “clássico” encarna a própria legitimidade literária, isto é, o que é reconhecido como A literatura, a partir do que serão traçados os limites do que será reconhecido como literário, o que servirá de unidade de medida especifica” (CASANOVA, 2002, p. 29).

A história literária expõe assim um sistema de exclusão, onde existe uma capital literária universal e regiões que dela dependem literariamente, além de apresentar uma tendência a consolidar modelos de interpretação segundo interesses de grupos.

Um fator que reforça esse modelo excludente de matriz e colônia literária é a centralidade da língua, ou seja, a dominação literária que uma língua pode exercer se relaciona em grau direto com número de poliglotas que a falam e os tradutores que fazem os textos circularem, assim pode-se falar de uma desigualdade literária das línguas (conf. CASANOVA, 2002).

Além de tudo que dissemos, esclarecedor é perceber, assim como Casanova (2002), que o efeito da crença literária é ocultar o princípio da dominação literária em si e que o espaço literário, centralizado, recusa-se a confessar sua situação de troca desigual, pois:

“(...) toda a dificuldade em compreender o funcionamento desse universo literário é, de fato, admitir não serem suas fronteiras, capitais, suas vias e suas formas de comunicação completamente passiveis de serem sobrepostas as do universo político e econômico” (CASANOVA, 2002, p. 25).

Como consequência desse cenário, toda interpretação adversa do consenso da capital, toda bandeira que postule algo diferente do canônico, como o de uma minoria de gênero, classe social, étnica, tende a ser rejeitada, por ser desprezada quanto à capacidade de formular conteúdos que reforcem os valores dominantes.

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