domingo, 30 de setembro de 2012

Resposta ao cárcere da poesia

O soneto “Minha finalidade”, de Augusto dos Anjos, é um belo exemplo de como a subjetividade pode ser exposta através da arte e, desta forma, aproximar o leitor que se identifica com a angústia e o pessimismo do poeta. Por sua vez, foge desta visão o poema “A um poeta”, de Olavo Bilac, que, inserido na perspectiva parnasiana, eleva a objetividade temática e o culto da forma em detrimento ao subjetivismo. Para entendermos esta proposta, primeiro se faz necessário compreendermos a postura adotada pelos dois poetas em relação à arte que produziam. Olavo Bilac sempre buscou a perfeição formal, a arte pela arte ou, em muitos casos, a arte sobre a arte. Isto fica evidente no próprio poema que citamos, pois este fala sobre o trabalho paciente do poeta em realizar sua obra. Por este ângulo, a manifestação poética deve ser impessoal e encarcerada na rigidez da forma. Augusto dos Anjos, oposto aos limites desta produção artística, consegue refletir em sua obra angústia e emoções pessoais. Não queremos dizer com isto que na obra dele a forma ou mesmo a linguagem bem elaborada é desprezada. Todavia, o poeta consegue expressar sua subjetividade, mesmo ao lado de uma linguagem cientifica. Exemplificamos esta afirmação, com uma estrofe do poema “Budismo Moderno”: Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa/ A criptógama cápsula se esbroa/ Ao contrato de bronca destra forte! A construção da primeira frase é simples, clara e expressa subjetividade, todo o resto tem o peso da formalidade e da grandeza. Existe um confronto direto nestes dois versos: “Não se mostre na fábrica o suplício do mestre”, de Olavo Bilac e “Plasmou, aparelhou, talhou minha alma/ Para cantar de preferência o Horrível!”, de Augusto dos Anjos. No primeiro verso, fica evidente que a obra não deve expor o labor do poeta, mas ser acabada com maestria e vigor. Já Augusto dos Anjos tem a alma trabalhada, para em sua arte, cantar os sentimentos e situações abomináveis. Diante do exposto, acreditamos que Augusto dos Anjos conseguiu dar uma resposta a esta poesia que visava à formalidade e que encarcerava o poeta em uma visão dissociada de emoções e subjetividades. Com este paraibano uma nova página nos anais da literatura brasileira foi escrita e nela as letras dividem o mesmo espaço, dando vazão tanto a sapiência formal, quanto ao que de mais belo tem o ser humano, ou seja, a subjetividade.

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