segunda-feira, 27 de abril de 2009

UMA REPORTAGEM SOBRE O DRAMA HUMANO


A OBRA:
HERSEY, John.Hiroshima. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 172 p.




Estudar o Jornalismo Literário, considerado um gênero híbrido, inclui, obrigatoriamente a leitura de John Hersey em sua obra “Hiroshima”. O jornalista norte-americano fez em 1946 (um ano após a explosão) uma reportagem sobre os efeitos da bomba atômica lançada em Hiroshima.
O texto relata o que aconteceu com seis pessoas que sobreviveram à explosão que matou mais de 100 mil e feriu centenas. Essa reportagem foi publicada na revista The New Yorker e ocupou todas as paginas da edição, coisa incomum para a época. Hersey conta à história dessas seis pessoas desde o dia da explosão até cerca de um ano após, somente em 1985 foi adicionado um apêndice que mostra o destino dos seis sobreviventes 40 anos depois da tragédia.
A obra é dividida em cinco capítulos – “Um clarão silencioso”, “O fogo”, “Investigam-se os detalhes”, “Flores sobre ruínas”, e “Depois da catástrofe” – cada qual englobando as fases da vida dos sobreviventes, as histórias são inter-relacionadas e refletem o drama humano daqueles dias.
No primeiro capitulo do livro, o autor relata o que as seis pessoas estavam fazendo no momento exato da explosão e nos diz: “Cada uma delas atribui sua sobrevivência ao acaso ou a um ato da própria vontade – um passo dado a tempo, uma decisão de entrar em casa, o fato de tomar um bonde e não outro”, eles creditavam suas vidas ao mero acaso, depois da morte de tantos. O autor relata a identificação da cidade que anteriormente abrigava 380 mil pessoas e depois de programas de evacuação haviam reduzido o numero para 245 mil.
Dando continuidade a contextualização, já no segundo capitulo da obra o autor narra o drama humano das pessoas que foram atingidas pela bomba, relata como se encontravam as ruas, ou que restou delas, os ferimentos, fraqueza do povo, queimaduras, efeitos de curto prazo da explosão. O que segue abaixo foi extraído do livro:

“A situação do Dr. Fuzii, do Dr. Kanda e do Dr. Machii - e, por extensão da maioria dos médicos de Hiroshima – logo após a explosão, com seus consultórios e hospitais destruídos, seus equipamentos dispersos, seus próprios corpos incapacitados em diferentes graus, explica por que morreram tantos cidadãos que podiam ser salvos... No hospital da cruz vermelha, o maior da cidade, apenas seis médicos, de uma equipe de trinta, e dez enfermeiras, dentre mais de duzentas, tinham condições de trabalhar”.

Sobre “Investigam-se os detalhes” o panorama é de uma cidade totalmente destruída, com seus moribundos espalhados por todos os lados.
No dia 7 de agosto, houve um pronunciamento dos meios de comunicação sobre o que havia ocorrido em Hiroshima, um rádio comunicava que haviam utilizado um novo tipo de bomba e estavam investigando os detalhes, essa era a melhor informação que eles poderiam fornecer no momento, já que desconheciam o real poder dessa arma de destruição em massa. Percebemos que a informação veiculada não acrescentava nada de novo ou de contundente para esclarecer o que tinha ocorrido. “A rádio e a imprensa japonesa estavam cautelosas em relação à estranha arma”.
Os dois últimos capítulos relatam à reconstrução das vidas dessas pessoas. Sobre “Flores sobre ruínas” notamos os efeitos da bomba em médio prazo na saúde dos sobreviventes, ou “hibakusha” (pessoas afetadas pela explosão), como preferiam ser chamados, pois acreditavam que dessa forma não estariam desrespeitando os mortos sagrados, já que o termo sobrevivente conotava um sentido de força maior que acabava por inferiorizar aqueles que morreram na explosão.
“Depois da catástrofe” Hersey mostra o rumo que a vida dos seis tomou e a própria reconstrução da cidade.
Essa reportagem alcançou repercussão mundial na época e o fato de ter sido produzida por um norte-americano tornou o fato mais contundente. A reportagem permitiu que se tomasse consciência do poder de destruição das armas nucleares.
Sem dúvida para aqueles que choraram com a morte de centenas de norte-americanos no atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, em Nova York, esse livro serve para refletir sobre um pouco da maldade que os filhos do Tio Sam já espalharam pelo mundo.
Hersey escreveu um texto enxuto, sem exagerar nos adjetivos, embora muitas vezes tenha chocado com as descrições tão bem elaboradas que nos faz reportar a cena da desolação.
Esse é um livro que devia constar no currículo de todos. Muito se fala da II Guerra Mundial, mas naquele distanciamento que acaba banalizando o sofrimento humano. Porém, o que realmente se passou no Japão, o terror, as mortes, o esfacelamento de Hiroshima e Nagasaki, poucos sabem. Essa leitura é primordial para quem deseja entender melhor essa fase de nossa História.

4 comentários:

  1. Vc para variar com textos muito inteligentes!Parabens!Olha eu aqui deixando meu recadinho!!:)
    Super beijo!

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  2. Oi Nanda! Muito obg! :)

    Oi Lívia!
    Nada melhor do que rever o passado, quando esse trás algum ensinamento!

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  3. Tambem lembrooooo!!!
    Eu tb ja havia publicado o meu antes, em meu antigo blog.. =D
    Bjs, querida!

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